Ou vs. Nem

 

Direita ou esquerda?

 

O problema

Você vai a uma loja e lá está, bem no cartaz de entrada:

Infelizmente, não temos café da marca X ou da marca Y.

Ou, ao ler um manual, você encontra:

Este celular não é resistente a água ou respingos.

Ou talvez você tenha recebido um e-mail promocional com os dizeres:

Esta promoção não se aplica aos estados de Minas Gerais ou Tocantins.

Percebeu algo de estranho? Se não percebeu, você não está só: é cada vez mais comum encontrar a conjunção “ou” usada em frases na negativa. Mas será que é correto?

Pensemos um minuto: qual foi a última vez que você se pegou dizendo (ou ouviu alguém dizer) “não, obrigado. Não gosto de cravo ou de canela”?

Há uma boa chance que você nunca tenha ouvido um falante nativo de português (ou seja, alguém que fale o português como língua-mãe) dizer “eu não gosto disso ou daquilo” — em vez do rotineiro “não gosto disso nem daquilo”. Como também deve ser o caso em expressões como “sem pé nem cabeça”, que ninguém diria “sem pé ou cabeça”.

Com a tal da globalização, a língua portuguesa passou a ser fortemente influenciada pela língua-franca atual: o inglês. Parece coisa nova, mas isso é comum e aconteceu com todos os idiomas da humanidade — em maior ou menor escala, a depender da tecnologia disponível, da benevolência de cada conquistador e, mais recentemente, da abertura linguística e cultural de cada sociedade.

Por exemplo, há 7.000 anos, o sumério influenciava o acádio (depois, quando os acádios dominaram os sumérios, vemos o idioma daqueles influenciando os destes); há 2.000 anos, o grego influenciava o latim; há 1.000 anos, o latim e o francês influenciavam o inglês; e hoje, com a internet e a tecnologia, bem como o poderio de EUA e Inglaterra, o inglês influencia basicamente todas as outras línguas do planeta, desde o amárico, passando pelo português, até o zulu.

Somem-se a isso traduções mal feitas (aquelas realizadas por maus profissionais, por profissionais mal pagos ou por indivíduos leigos que não trabalham profissionalmente com tradução) e temos um problema ainda maior. Neil deGrasse Tyson tem uma frase interessante, em que aponta um dos grandes desafios da vida: “saber o bastante para acharmos que estamos certos, mas não o bastante para sabermos quando estamos errados”:

Neal deGrasse Tyson Twitter

Fonte: Twitter

Na verdade, trata-se de uma variação do dito popular que lembra que pouco conhecimento é coisa perigosa (em verdade, a máxima é de Alexander Pope, mas terminou caindo na boca do povo). Ou seja, quanto menos uma pessoa sabe, mais ela acha que sabe. O fenômeno tem até nome científico: efeito Dunning-Kruger.

Este é o caso de muitas traduções atuais, em que o parco conhecimento das línguas portuguesa e inglesa pode causar interferências indesejadas. Isso se reflete diretamente na enorme maioria dos erros que acometem a utilização de “ou” e “nem”. Primariamente trazida pela influência do inglês nas traduções de má qualidade no Brasil, a confusão terminou por se difundir entre nós.

 

Inglês “or” / “nor”

Em inglês, costuma-se usar “or” (ou) em frases negativas, para evitar a chamada “dupla negação” (que, em teoria, produziria uma afirmação). Vejamos o exemplo:

He is not strong or wise

(Ele não é forte nem sábio)


Em inglês, existe também a palavra “nor” (nem). Esta é geralmente utilizada em combinação com a palavra “neither” (nem), que sempre lhe antecede. Veja o exemplo:

Neither snow nor rain

(Nem neve, nem chuva)

— Início do lema informal dos Correios dos EUA


Ou seja, em inglês, “nor” é sempre acompanhado de “neither”. Quando “neither” não está presente, há uma preferência, atualmente, por utilizar a conjunção “or” em frases negativas.

Digo “atualmente” porque nem sempre foi assim. Veja os exemplos abaixo:

“She was not made of tin nor straw”

— Lyman Frank Baum, The Wizard of Oz, Cap. 5.

“There seemed to be no horses nor animals”

— Lyman Frank Baum, The Wizard of Oz, Cap. 11.

“There were no farms nor houses”

— Lyman Frank Baum, The Wizard of Oz, Cap. 12.

“There was no word from Robert Cohn nor from Brett”

— Ernest Hemingway, The Sun also Rises, Cap. 12.

“But I do not believe anything is that short nor that simple in this country”

— Ernest Hemingway, For Whom the Bell Tolls, Cap. 5.

“It was not its length nor its breadth, but its height”

— Edgar Allan Poe, The Duc de L’Omelette.

“Call not me ‘honour’ nor ‘lordship’.”

— Shakespeare, The Taming of the Shrew, 1.

“I’ll not be tied to hours nor ‘pointed times”

— Shakespeare, The Taming of the Shrew, 3.1.

Todos os exemplos acima, se fossem escritos hoje, seriam redigidos com “or”. No entanto, grandes autores da língua inglesa (tanto dos Estados Unidos quanto do Reino Unido) utilizaram-se, no passado, da forma “nor” (e não “or”), do mesmo modo como a utilizamos hoje em português. A mudança para “or” em frases negativas, no inglês, é algo mais recente. Mas em português, nosso “nem” continua perfeitamente funcional: “ele não é forte nem sábio”; “nem neve, nem chuva”. O risco existe quando o falante de português, desconhecendo tanto a língua inglesa quanto até a sua própria, resolve traduzir ao pé da letra “or” como “ou”. Sem saber, ele insere uma variável incorreta no próprio idioma.

Mas por que incorreta? Vejamos.

 

“Ou” e “nem” em português

Na língua portuguesa, “ou” possui essencialmente valor positivo. Por “positivo”, queremos dizer que “ou” se refere ativamente a uma escolha entre duas ou mais opções: por isso é chamado de conjunção alternativa. Veja:

Você prefere laranja ou banana?

O falante é direcionado a duas opções (alternativas), devendo escolher entre uma delas (nunca as duas). Por isso, “ou” é geralmente usado em frases afirmativas. Ele pode ser usado em frases negativas, mas, devido a sua natureza de livre escolha, o sentido muda. Observe:

Não temos laranja ou banana.

Se destrincharmos a frase acima, teremos: “não temos laranja. Ou então não temos banana.”

Em outras palavras, “ou” possui sentido alternativo. Lembra-se da prova de múltipla escolha? É como se o enunciado trouxesse uma questão em que apenas uma das alternativas fosse correta:

01. Marque a opção (alternativa) correta.

Nós não temos:

(a) Laranjas

(b) Bananas

Na conjunção alternativa (“ou”), temos, literalmente, uma ou mais alternativas (daí o nome), sendo preciso escolher apenas uma delas. Em frases afirmativas, fica mais fácil escolher. Mas quando utilizamos uma frase na negativa, terminamos sem saber qual é a alternativa correta. A frase do vendedor, portanto, significa que ele não sabe se está sem laranjas ou se está sem bananas. Ela está sem uma das duas frutas (e não sem as duas juntas): ou faltou banana ou faltou laranja, não se sabe exatamente qual.

Isso acontece porque “ou” é uma conjunção alternativa, vale dizer, ela te dá duas opções: “ou é isso ou é aquilo — nunca os dois juntos.” Assim, por definição, “ou” traz alternativas, nunca adição.

Se o falante deseja expressar a ideia de adição, quer dizer, se deseja exprimir a ideia de que não há nenhum dos dois itens, será necessário dizer “não temos laranja nem banana.” Aí não temos alternativa: não há como escolher (alternar) entre uma e outra, pois não é possível levar nenhuma das duas frutas. Ambas estão em falta.

Em outras palavras, “ou” passa a ideia de alternativa entre duas ou mais opções; enquanto “nem” significa, pura e simplesmente, “também não”.


também não = nem


Para saber, portanto, que conjunção usar, basta usar a frase inteira, sem elisões. Tomemos os exemplos citados no início deste artigo:

Exemplo 1

Este celular não é resistente a água. Ele também não é resistente a respingos.

Resultado: este celular não é resistente a água nem a respingos.

Exemplo 2

Esta promoção não se aplica ao estado de Minas Gerais. Ela também não se aplica a Tocantins.

Resultados:

1. Esta promoção não se aplica ao estado de Minas Gerais nem ao de Tocantins.

2. Esta promoção não se aplica aos estados de Minas Gerais e Tocantins.

 

“Ou” na negativa

O celular, portanto, que se diz não ser resistente a água ou a respingos, em verdade, está dizendo: ou não é resistente a água… ou então não é resistente a respingos. Um dos dois: você que se vire para descobrir (já que não dizem qual dessas opções/alternativas é válida).

Mas será que “ou” nunca é usado em frases negativas? É, sim. Mas significa sempre uma alternativa, e não uma adição. Por exemplo:

Paulo não sairá hoje, ou então irá direto para o trabalho.

Há uma negação na frase (“não sairá”), e no entanto a conjunção “ou” funciona. Por quê? Ora, porque a frase indica que Paulo: ou 1) não sairá para nenhum lugar hoje; ou 2) se sair, irá direto para o trabalho (e não à praia, digamos). Vale dizer, a frase mostra que, se era intuito de João se encontrar com Paulo em outro lugar (por exemplo, na farmácia), não será possível: o tête-à-tête, sinto muito, só vai rolar na casa ou no trabalho de Paulo.

Outro exemplo:

Você não vai mais brincar com lápis nem com hidrocor, ou então sofrerá as consequências.

Essa é uma mãe claramente estressada. Mas ninguém pode acusá-la de ter cometido um desfalque em português — este continua imaculado. Ela utilizou “nem” para indicar que ambos lápis e hidrocor estão fora do jogo (uma adição de fatores, que, por definição, exclui a conjunção “ou”, por esta última manifestar uma escolha, uma alternativa); em seguida, utilizou a conjunção “ou” para indicar, corretamente, que se trata (agora, sim) da tal alternativa: ou a criança para de riscar a casa ou vai apanhar — escolha seu veneno com cuidado!

 

Positivação de uma das alternativas

A utilização da conjunção alternativa “ou” em frases negativas incorre em outra problemática ainda mais grave.

Em frases afirmativas, quando temos uma escolha entre alternativas, isso geralmente significa que, se uma alternativa ocorrer, a outra necessariamente não ocorrerá:

Você pode vir aqui ou eu posso ir aí.

Só uma das duas alternativas ocorrerá: ou 1) você vem aqui, ou 2) eu vou aí — daí o nome “alternativa”. Para utilizar duas opções juntas, usaríamos uma conjunção aditiva (e), não alternativa (ou).

Ocorre que, na negativa, opera-se a mesma premissa, mas de forma invertida: enquanto uma das alternativas não ocorrerá, a outra alternativa, sim, ocorrerá.

Observe a frase abaixo:

Para conferir informações como data e horário, você não precisa levantar o telefone ou tocar na tela.

MacMagazine, 26/09/2022.

Temos a informação de que 1) “você não precisa levantar o telefone” ou 2) “você não precisa tocar na tela”, como se fosse necessário escolher entre uma das duas alternativas. O problema? É que se temos alternativas, isso significa que uma será válida, enquanto a outra, não. Como aqui estamos na negativa, uma das alternativas não ocorrerá, enquanto a outra, sim, ocorrerá.

Consequentemente, o que está dito, na verdade, é: “ou 1) você não precisa levantar o telefone, ou 2) não precisa tocar na tela. Só vale uma das alternativas: se não precisar levantar o telefone, precisará tocar na tela; caso contrário, se não precisar tocar na tela, precisará levantar o telefone.”

Isso acontece porque alternativas sempre direcionam a apenas uma das opções disponibilizadas, automaticamente excluindo as demais. Em frases afirmativas, só uma das duas opções acontece (a outra não acontecerá). Em frases negativas, só uma das duas opções não acontece (a outra acontecerá).

O correto, portanto, seria dizer:

Para conferir informações como data e horário, você não precisa levantar o telefone nem tocar na tela.

Ou seja, “você não precisa levantar o telefone, e também não precisa tocar na tela.”

 

Prova real

Você já deve ter ouvido falar da prova real em matemática. É bem simples: se temos 6 ÷ 3 = 2, tiramos a prova real multiplicando 2 x 3, obtendo o resultado 6. Vemos que a conta de divisão original está correta.

É possível fazer algo parecido na língua portuguesa. Abaixo temos uma frase real em inglês, que precisou ser vertida ao português:

No procedure was conducted to review the safety or regulatory implications of the change. 

O cliente queria que eu revisasse a tradução feita por um terceiro. Pois o tradutor havia vertido a frase ao português assim:

Não foi realizado o procedimento para analisar a segurança ou as implicações regulatórias da mudança.

Vamos aqui relevar a estranha construção da frase em português, óbvio decalque da sintaxe inglesa. Passaremos ao que importa — a conjunção “ou”.

Claramente, o procedimento, citado no exemplo acima, serve para analisar não só a segurança, mas as implicações normativas causadas pelas alterações realizadas. Ou seja, embora a conjunção inglesa utilizada seja “or”, a conjunção em português não deverá ser “ou”, pois não se trata de uma escolha entre duas opções (com descarte obrigatório de uma delas). O procedimento analisa tanto as implicações normativas quanto as questões de segurança. Podemos tirar a “prova real” da frase invertendo-a, desta forma:

O procedimento, que analisaria a segurança e as implicações normativas da mudança, não foi realizado.

Se utilizássemos “o procedimento, que analisaria a segurança ou as implicações”, daríamos a entender que o procedimento só analisa uma das duas opções. Na frase em inglês, porém, é ostensivo que o procedimento não analisou as questões de seguranças e também não analisou as implicações normativas das alterações feitas. Portanto, a conjunção correta não é a de alternativa (ou), mas a de adição, cumulação (e). Uma vez que o correspondente da conjunção afirmativa “e”, na negativa, é “nem”, a frase do tradutor deveria ter sido:

Não foi realizado o procedimento para analisar a segurança nem as implicações regulatórias da mudança.

Pois não se realizou nenhum procedimento para analisar a segurança, e também não se realizou procedimento para analisar as implicações normativas da alteração realizada. Seria possível trocar “nem” por um sinônimo, como “tampouco”.

 

Conclusão

A conjunção “ou” em português traz em si a ideia de opção, escolha, alternativa. Por isso, é geralmente usada em frases afirmativas — mas pode ser usada na negativa, embora o sentido de alternativa permaneça (só uma das opções vingará).

Já a conjunção “nem” indica adição, sendo utilizada em frases negativas. Ela traz a ideia de cumulatividade, de adição de elementos. “Nem” é o equivalente negativo do “e” (conjunção de adição) encontrado nas frases afirmativas. É o -1 (nem) que espelha o +1 (e). É o Agente Smith atuando como reflexo de Neo.

Em poucas palavras, “ou” possui valor alternativo; “nem”, valor cumulativo, adicional (na negativa; em frases na afirmativa, utilize “e”).

Assim, para descobrir quando é necessário utilizar “ou” ou “nem”, basta destrinchar a frase. Se o intuito for dizer “também não”, use “nem”.

Vejamos alguns exemplos práticos abaixo. Todos eles representam casos reais, encontrados no cotidiano:




1) No site Estante Virtual, determinado sebo assim descreve um de seus produtos:

Neste livro não há marcas ou rasgos”.

A conjunção alternativa “ou” indica que o autor da frase está oferecendo uma alternativa. É como se dissesse: “trata-se de um dos dois: o livro não tem marcas ou então não tem rasgos — não sabemos qual! Compre e descubra”. A verdadeira intenção, que é dizer “neste livro não há marcas e também não há rasgos” será mais corretamente alcançada com a conjunção de adição / cumulação correta: “neste livro não há marcas nem rasgos”.




2) Veja este trecho retirado do site das Americanas:

Dica de segurança: não compartilhe números de cartão de crédito, endereços de e-mail ou outras informações pessoais nessa mensagem.

Da mesma forma, vemos que o site em verdade quer dizer “não compartilhe o cartão de crédito e também não compartilhe outras informações pessoais”; portanto, melhor seria dizer “não compartilhe o cartão nem outras informações pessoais”.





3) O texto abaixo foi retirado do aplicativo do Banco do Brasil:

Elaboramos essa simulação com base nas informações fornecidas por você até aqui, que não constitui garantia ou obrigação de pagamento pela Brasilprev. Não foram considerados resgates, aportes, portabilidades ou alterações em fundos do investimento.”

Tampouco aqui se trata de uma alternativa (na frase “não é uma garantia ou não é uma obrigação”, só valeria uma das duas opções), mas sim uma junção de fatores, uma adição/cumulação de elementos. O que o Banco do Brasil quis dizer foi que a simulação “não constitui garantia de pagamento e também não constitui obrigação de pagamento”. Da mesma forma, não foram considerados resgates, e também não foram consideradas alterações em fundos de investimento. Assim, o correto seria dizer:

Elaboramos essa simulação com base nas informações fornecidas por você até aqui, que não constitui garantia nem obrigação de pagamento pela Brasilprev. Não foram considerados resgates, aportes, portabilidades nem alterações em fundos do investimento.”




4) Este exemplo foi retirado do Escavador:

O Escavador não cria, edita ou altera o conteúdo exibido.

Melhor seria evitar a dúvida: “não cria, não edita ou não altera? Qual dessas opções vale aqui?”. Se o intuito for mostrar que o Escavador não cria, também não edita e também não altera (ou seja, que o Escavador não realiza nenhuma das três ações), a forma correta seria “O Escavador não cria, edita nem altera o conteúdo exibido.”





5) Já este trecho foi retirado de um formulário traduzido do inglês para o português de Portugal:

O sr. pode escolher não completar nada, uma parte, ou a totalidade do inquérito.”

Notamos a negativa (“não completar”) seguida pela conjunção alternativa (“ou”). Se há uma alternativa, isso significa que estatamos tratando de uma escolha, com duas ou mais opções. Essa escolha final será apenas uma dentre as alternativas oferecidas (e não a adição/cumulação de todas elas).

Como está escrito, o sentido tomado é este: “você escolhe entre responder: a) nenhuma questão; b) parte das questões; c) todas as questões”. Ora, de fato, neste caso, trata-se de uma escolha: o formulário está, literalmente, oferecendo três opções (alternativas!), e o freguês escolhe qual delas prefere seguir. Se ele quiser responder parte do formulário, ele poderá fazer isso; se quiser responder tudo, também poderá; e se quiser não responder nada, também isso será possível. Assim, neste caso, a conjunção alternativa (“ou”) foi utilizada corretamente. A frase dá a ideia de alternativa, não de adição.

Em português brasileiro, soaria mais natural a nossos ouvidos traduzir a passagem como “O sr. pode responder o formulário total ou parcialmente, ou ainda não o responder.” Mas ambas as formas estão corretas.




Última página do passaporte do Brasil

Última página do passaporte do Brasil.

6) Por fim, este trecho foi retirado do passaporte da República Federativa do Brasil, em sua última página:

NÃO GRAMPEAR OU CARIMBAR ESTA PÁGINA

Se a intenção era dizer “não grampear [e também] não carimbar esta página”, a redação deveria ser “não grampear nem carimbar esta página”.

O mais interessante é que, logo abaixo, encontra-se a tradução em espanhol:

NO GRAPAR NI SELLAR ESTA PÁGINA”.

A redação em espanhol foi bem mais feliz do que a versão portuguesa.


Enfim, graças ao “nem”, podemos utilizar expressões tradicionais como “sem eira nem beira” (e não “sem eira ou beira”), “não fede nem cheira” (ao invés de “não fede ou cheira”) e várias outras. Essa palavrinha já nos acompanha há muitos séculos — vamos utilizá-la mais frequentemente, nas ocasiões em que for apropriada. Para isso, basta substituir a conjunção suspeita por “também não”. Você prontamente descobrirá a opção correta a ser empregada.

Haggen Kennedy

Kennedy é tradutor e intérprete há mais de 20 anos, e nunca parou de amar as línguas (às vezes, até as más!). Trabalha profissionalmente com português, inglês, espanhol e grego, além de ser advogado. Este é seu blog pessoal, com opiniões, explicações, dicas e curiosidades principalmente sobre a “última flor do lácio”, mas ocasionalmente (inevitavelmente) também sobre idiomas em geral.

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